Por que é tão importante que mulheres se sintam seguras para pegar (e dar) carona

Para a mobilidade ser mais inclusiva, é preciso que o público feminino participe ativamente dessa evolução, apresentando suas necessidades e perspectivas nos momentos em que as tecnologias são desenvolvidas, testadas e aplicadas

Mulher carona BlaBlaCar

Tatiana Mattos escreve artigo sobre mobilidade inclusiva e a perspectiva feminina no setor.
Historicamente, as cidades em todo o mundo foram projetadas para atender as necessidades, sobretudo, de homens. No entanto, as cidades são vividas de forma diferente por homens e mulheres. Para mulheres e meninas, os acessos a emprego, educação, serviços de assistência e até mesmo ao lazer são limitados quando os sistemas de mobilidade urbana e os espaços públicos não são seguros e inclusivos.

Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE) mostra que, desde 2012, a taxa de desemprego das mulheres é superior à dos homens. Em 2021, tal desequilíbrio atingiu 6 pontos percentuais, a maior diferença desde o início do estudo. Por outro lado, vemos também uma evolução. Entre os anos de 2014 e 2019, a taxa de participação feminina no mercado de trabalho cresceu continuamente e atingiu 54,34% em 2019.

Isso significa que, além dos desafios encontrados por mulheres na busca por postos de trabalho, também precisamos lidar diariamente com o medo e a insegurança nos deslocamentos do nosso dia a dia. E isso impacta diretamente a participação feminina em atividades profissionais e de lazer.

Quando alguém pergunta “qual é o seu maior medo falando em mobilidade?”, provavelmente é uma questão que não ressoa para homens, mas faz muito sentido para nós, mulheres, que ainda vivemos uma realidade bem distinta. Pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão apontou que oito em cada dez mulheres já sofreram alguma situação de violência durante deslocamentos urbanos. O estudo apontou, também, que as mulheres são as mais vulneráveis em transportes públicos. Para 72% das mulheres, o tempo para chegar ao trabalho influencia na decisão de aceitar um emprego ou de permanecer nele.

Isso reforça a importância de que as mulheres tenham cada vez mais opções de deslocamento, seja para trabalhar, visitar seus familiares, fazer viagens ainda mais longas entre cidades ou em quaisquer demais usos.

Outra pesquisa, de Mobilidade da Região Metropolitana de São Paulo, mostrou que em 55% das oportunidades os homens ficam com o carro da família durante o dia a dia, somando a grande maioria dos motoristas no país – em veículos próprios ou nos transportes públicos ou privados. Ou seja, dados quantitativos e qualitativos nos encorajam a tornar a mobilidade mais sustentável e inclusiva.

Nesse sentido, uma das alternativas encontradas por empresas do setor de mobilidade para auxiliar que as mulheres se sintam mais seguras é criar soluções personalizadas. Um exemplo se aplica às caronas, modal de transporte cada vez mais utilizado pelas brasileiras. Atualmente, é possível solicitar uma carona oferecida apenas por outras mulheres.

Também sabemos que, para a mobilidade ser mais inclusiva, é preciso que o público feminino participe ativamente dessa evolução, apresentando suas necessidades e perspectivas nos momentos em que as tecnologias são desenvolvidas, testadas e aplicadas. Ter mulheres pensando em como resolver esses desafios faz toda a diferença.

Por isso, é também tão importante avançar para tornar o ambiente corporativo mais igualitário. Sabemos que as organizações que enxergam a paridade de gênero como um ativo estratégico são mais bem-sucedidas. Estamos em um processo contínuo de aprendizado e as soluções podem não ser tão simples, nem tão rápidas, mas assumir o compromisso para que elas estejam em pauta e sejam pensadas de dentro para fora, por e para mulheres, é garantir que sejamos cada vez mais livres para decidir os nossos caminhos, inclusive como queremos nos deslocar.
*Tatiana Mattos é head da BlaBlaCar no Brasil
Fonte: https://epocanegocios.globo.com/colunas/coluna/2023/05/por-que-e-tao-importante-que-mulheres-se-sintam-seguras-para-pegar-e-dar-carona.ghtml

Juliana Prando

Jornalista pela PUC-SP

Posts Relacionados

Go up

Nós armazenamos dados temporariamente para melhorar a sua experiência de navegação e recomendar conteúdo de seu interesse. Política de Cookies